Os vícios de uma nação

É estranho o quanto o nosso país tem vivido como as ondas, num sobe e desce de ânimos e movimentos. A gente tem até a impressão de que finalmente vai engrenar, mas aí parece que a onda quebra, amansa e o mar fica calmo novamente. Tive até a esperança de que finalmente as pessoas fossem começar uma luta por mais ética, cheguei até a acreditar que finalmente haviam entendido que todos nós temos que ser fiscais daqueles que nos governam e daqueles que trabalham nos órgãos públicos.

A consciência de onde vem o mal que paralisa o país parece ainda não ter assolado os cidadãos. Depois de tantos escândalos e denúncias, acho que ficou bem claro que todos que trabalham com o dinheiro público estão suscetíveis ao sentimento de desejá-lo para si. É claro que isso não é normal, mas a partir do momento em que se cria esta cultura, automaticamente estas pessoas tendem a cultivar este sentimento e basta uma oportunidade para se tornar mais um corrupto na sociedade. Onde está o princípio da honestidade, da coletividade e da ética? Me pergunto todos os dias como essas pessoas conseguem tão facilmente sucumbir  a essas fraquezas e enterrar os valores fundamentais de uma nação e da vida em sociedade.

A cada novo caso, então me pergunto: eles não param nunca? Políticos, policiais, pessoas que trabalham em Fiscalizações, juízes, etc. Todos os dias se vê novos casos. Pessoas entram em cargos que fiscalizam outras pessoas e Empresas e logo são compradas, ou são convidadas a entrar em algum “esquema”. Infelizmente aqui acolá ouve-se esses tipos de história. É difícil entender como um cidadão luta para vencer uma eleição, ou mesmo passa tantos anos estudando pra passar em concursos tão difíceis,  ganha uma boa remuneração, algumas vezes tem muitos privilégios, tem uma vida confortável e mesmo assim se vende. Por um outro lado, só posso lamentar por aqueles que são bem intencionados e quando não aceitam este tipo de “convite”, tem as vidas ameaçadas ou são perseguidas. E assim como tantos outros indignados, me pergunto: que país é esse? Se isso fosse uma prática rara , seria uma fraqueza que acontece também em homens com poder em países civilizados. Mas na proporção que ocorre em nosso país é endêmico, quase patológico.

Gostaria muito de viver para ver a maioria das pessoas deste país defendendo os valores da ética e da honestidade, gostaria muito de ver as pessoas agindo sempre pensando no outro, no futuro do país, nos seus próprios descendentes. Que país essas pessoas pretendem deixar para seus filhos e netos? Quantas e quantas pessoas perdem a oportunidade de deixar o seu nome na história deste país como aquele que contribuiu de alguma forma para melhorar algo? para melhorar a sua cidade, o seu Estado? Eu realmente espero pelo dia em que as pessoas vão começar a entender que só vai ser bom para todos, quando cada um fizer a sua parte, do contrário, seremos eternos reféns daqueles que se entregam facilmente a seus vícios por dinheiro e poder.

PS:  Esse texto foi escrito há poucos anos atrás, mas só agora decidi publicá-lo, porque nada mudou e tudo se agravou, numa proporção que confesso sentir minhas esperanças abaladas, e hoje tudo parece completamente surreal. O comportamento do governo e da sociedade têm sido de uma insanidade inacreditável, e agora me pego praticamente pinçando aqui e ali algumas almas que guardam uma coisa chamada princípios, e vou colocando-as no meu novo bauzinho de novas esperanças, para quem sabe um dia voltar a crer que a maré vai mudar, que as águas vão rolar e tudo isso vai passar, e apesar das epidemias de Covid e de ignorância que assolam o país, amanhã há de ser outro dia.

05/07/2020