Café da manhã ecológico ou musical?


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Se há uma refeição de que gosto, é o café da manhã. Por sorte, em nosso país tem uma farta opção de alimentos, cheia de herança cultural e tradições, oferecendo possibilidades, na maioria das regiões, para todos os gostos e necessidades. É aquele momento em que iniciamos o dia e nos preparamos para mais uma jornada, ou mais uma oportunidade para todos os começos e recomeços possíveis. Alguns dizem que, assim como outras refeições, esta também é uma hora sagrada, e dependendo da crença, a oração não pode faltar. Mas como existe todo tipo de criatura humana, e portanto todo tipo de família, então nem todo café matinal tem café e nem toda ceia é santa.

Sem entrar no mérito de como as famílias, logo cedo, começam a travar as suas batalhas, e considerando que, já neste momento, se iniciam os primeiros desafios do dia, creio que devemos procurar começá-lo, então, da forma mais positiva possível. Porém, tenho visto que a vida é que vai moldando as rotinas diárias, e muitas vezes, as situações vão mudando de tal forma, que, quando nos damos conta, cada membro da família já tem o próprio horário de refeição. Até mesmo eu tive que me adaptar a esta nova realidade caseira e aceitar que, mesmo tendo uma família, em minha mesa matinal, normalmente sou a minha própria companhia.

E para não ter a sensação de solidão, assim como muitos, comecei a solicitar a companhia da minha pequena TV da cozinha. Nos primeiros anos, achava até agradável preparar meu desjejum e comer ouvindo as notícias do mundo rural. Sempre me identifiquei com esses assuntos, e era então uma boa companheira, até o dia em que a emissora achou pouco o festival de jornais que assolam as programações e resolveu oferecer aos telespectadores, nas primeiras horas da manhã, uma overdose de notícias locais e do mundo regadas a tragédias e bad news para todos os gostos. Que saudade de ter notícias do campo logo cedinho! Sentia-me até com um pezinho na terra. Sonhava um dia, literalmente, colher os meus próprios frutos e poder partilhar esta realização. Portanto, meu café da manhã consistia sobretudo em alimentar meus sonhos ecológicos/rurais.

Com isso, e sem opções, após passar um tempo acompanhada de reportagens locais, de pautas infinitamente repetitivas, por fim desisti desta alternativa e comecei a pensar em como tornar este momento mais agradável. Foi então que reencontrei em uma ideia super simples, o meu prazer durante o café da manhã: comecei a fazer aquilo que as pessoas estão abandonando com o advento da tecnologia, que é ouvir o bom e velho rádio. Não para ouvir más notícias, mas para desfrutar de uma programação fantástica, que todos os dias presenteia o ouvinte com pérolas de um tempo de consistência e significado. Hoje, porém, essas pérolas foram substituídas por composições de péssima qualidade, alimentadas pela mídia atual. A grande diferença é que estas jamais serão eternizadas ou morarão nas lembranças desta geração, quando as boas recordações forem uma de suas maiores riquezas. Eu, no entanto, agora sigo com minhas ceias matinais cheias de poesia, colhendo outros bons frutos, outrora plantados por nossos talentosos artistas, estrelas de um tempo de muita inspiração e transpiração..


18/08/2019