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Há alguns
anos tive uma experiência física um tanto quanto desastrosa, enquanto me
exercitava numa academia, resultado de um problema pré-existente, denominado
frouxidão ligamentar, o qual já havia dado alguns sinais anos antes, porém sem
maiores consequências até o dia em que sofri uma luxação em um dos ombros, um
grande susto após tentar suspender um peso que meu ombro não foi capaz de
sustentar.
O fato é que, algum tempo depois
ao realizar um exercício, estando na posição horizontal e utilizando pesos,
também não fui capaz de sustentar um altere e sofri uma nova luxação, dessa vez no outro ombro. Tudo
isso poderia não representar nada, porém a mente humana prega peças e naturalmente cria pequenos traumas quando nos
deparamos com situações dolorosas, inclusive as físicas. E foi assim que passei
a temer exercícios com alteres. Se o exercício se assemelhasse aquele que havia
sido o vilão da segunda lesão, eu já ligava todas as minhas defesas e tentava
evitar a ameaça de um movimento fatal, isso com míseros 2 kg, que era o limite
que a minha mente havia determinado como intransponível.
Mas como não há como se esconder
por muito tempo atrás dos nossos medos, um dia fui desafiada a superar o
esforço, para realizar uma série com alteres de 3 kg, que era o meu maior
temor. Tinha que fazer, mas o medo da lesão me paralisava e me fazia argumentar
com a minha orientadora, que não concordava com meus temores, me deixando sem
mais desculpas. Sentindo como quem vai para um combate, segundo dizia a
professora: “apenas 3 quilos” em cada mão, me concentro em dominar as minhas
emoções, a fim de que elas não deixem meus músculos esmorecerem, diante daquele
cenário que a mente insiste em remontar a um instante de trauma registrado lá
trás. Então repito para
mim mesma “são apenas
3 quilos”. Tão pouco peso para um altere, tanto peso para uma mente
assustada. Aquilo estava caminhando para um momento de superação e eu não
conseguia parar de pensar também em como coisas tão pequenas podem ser tão
difíceis para uns, enquanto que para outros parecem tão fáceis. E por ter tido essa mesma
sensação em algum outro momento da vida, vejo que cada um pode ter algum dia
seus próprios pesos limites para levantar e que nem sempre estamos dispostos a
superar uma barreira criada por nós mesmos.
Mas enfim, quando superado o
medo, olhamos para trás e como era de se esperar, uma voz ecoa dentro de nós:
“tá vendo? Nem doeu. O bicho não era tão feio quanto você pensava”. No fundo, a
gente sabe disso, mas nem sempre é possível ultrapassar as nossas barreiras,
sem um braço que nos impulsione, que não seja o nosso próprio. Se a vida a todo
momento, desafia os nossos medos, parece
que não há outro jeito a não ser enfrentá-los, de outro modo, corremos o risco
de ficarmos reféns de “apenas 3 quilos”.
16/11/2019