Lembrancinhas de viagem

Foto: Jametlene Reskp

Gosto muito de viajar e inevitavelmente de comprar lembrancinhas do lugar que fui conhecer. É quase uma lei adquirir aquele objeto que vai manter a memória de mais um lugar desbravado. Não há como não trazer no mínimo um ímã de geladeira, e a essa altura da vida já são tantos que a porta do congelador já não tem mais nem um centímetro disponível para mais um.

É interessante como a gente se apega a esse tipo de coisa e algumas vezes se pudéssemos trazer um pedaço do lugar que gostamos dentro da mala, assim o faríamos. Alguns lugares são especialistas em criar esses artigos que deixam os turistas totalmente encantados, e não há como resistir, afinal é disso que muitos vivem nos locais turísticos. Muitas vezes travamos uma batalha com os vendedores para conseguir um preço mais justo, mas geralmente não abrimos mão de obter aquele item especial, que parece não podermos admitir a possibilidade de voltar para casa sem ele.

Hoje, após tantas viagens e dúzias de lembrancinhas, começo a repensar sobre a questão. Não que seja algo tão sério que não possa mais fazer, ou me arrepender das que já trouxe em minhas andanças, mas penso que poderia ter comprado menos. Se estamos vivendo um momento de maior consciência de consumo é justo reavaliar também este comportamento, que a princípio parece inofensivo, mas na realidade alimenta uma sede de gastar com algo que não precisamos ter. Se pararmos para pensar, as milhares de fotos que tiramos hoje com a facilidade das câmeras nos celulares já são suficientes e, um exagero para guardarmos as recordações de onde passamos.

Outro dia estava lendo um livro da escritora Martha Medeiros onde ela narrava uma série de viagens que fez a vários países, e mencionou o assunto dos souvenirs, porque assim como a grande maioria das pessoas, ela também costumava adquiri-los por onde passava. Foi assim até que o dia em que teve um forte sentimento da não necessidade desse impulso e concluiu que outras fontes de recordação lhe bastavam. Penso que estou entrando nessa “vibe”. É claro que isso exige uma certa maturidade ou consciência e não sei se chegarei lá, mas tenho começado a me policiar a respeito e tentado ao menos diminuir a minha cota para um por cidade. Parece suficiente até que consiga assimilar a ideia de guardar o registro de onde andei em fotos e na memória, que são os melhores lugares para isso.

Racionalizar também pode ser uma saída, ou seja, comprar algo que estejamos precisando ou que consumiremos ao invés de acumularmos, como uma bebida ou comida. Garanto que é sempre muito prazeroso relembrar um lugar através do paladar. Mas como costumam dizer os entendidos, é um processo e cada um tem o seu. Hoje reavaliando a questão, coloco meus souvenirs na conta dodespertamento” dessa consciência acerca do consumo, e espero fazer progressos e estimular outras reflexões na mesma linha. Afinal é das pequenas coisas que chegamos às grandes.

11/09/2022