Um passeio inusitado

 “Acorda, prima! Acorda! Tenho uma notícia que você vai adorar”. Era o meu primo me despertando em um dos dias em que, aos dezoito anos, estava passando férias na casa da minha tia na cidade do Rio de Janeiro, tão distante de casa como se estivesse em outro continente. Quando abri os olhos pela manhã, não poderia supor que o meu dia seria tão inusitado. Precisava levantar e acordar uma amiga que havia me acompanhado nessa viagem, a fim de nos prepararmos para o programa que nos aguardava e nem sabíamos.

Quando chegamos para nossas férias, logo soubemos que o vizinho, amigo dos meus tios, trabalhava na emissora Rede Globo. Como a minha amiga seria uma futura estudante de Comunicação, pensou na possibilidade de conhecermos os estúdios. Porém, após minha tia consultar o amigo, ele não achou que poderia conseguir uma visita no período em que estaríamos por lá. Com essa resposta, descartamos essa opção.

No entanto, imensa foi a nossa surpresa, quando o meu primo nos comunicou que o vizinho havia conseguido uma visita guiada para nós no horário da tarde, e que ele nos levaria assim que terminássemos de almoçar. Como havíamos dormido até tarde, precisávamos nos apressar, porque a viagem seria longa.

Nossa aventura já começou na ida. Tivemos que pegar dois ônibus até o Jardim Botânico e foi algo novo, porque sempre que saíamos alguém nos levava de carro. O primo nos deixou na entrada e foi aí que começou a magia. Logo na recepção vimos o Chico Anísio, do qual éramos fãs. Na sequência, fomos cumprimentadas pela atriz Regina Duarte, depois pela repórter Leilane Neubarth, e vimos o Cid Moreira, chegando para iniciar seus trabalhos. Quando começamos a visita, cruzamos com Francisco Cuoco, Suzana Vieira e Tássia Camargo, entre outros artistas. Ficamos eufóricas ao conhecer o set do Jornal Nacional, alguns cenários das novelas e um dos auditórios dos programas gravados com público. Saímos de lá sem acreditar naquela experiência para duas meninas tão jovens e anônimas. E quando estávamos na saída e achávamos que havia acabado, nos deparamos com a repórter Glória Maria. Rimos à toa. Quem acreditaria que estivemos ali?

Estávamos tão entusiasmadas que, só quando chegamos na parte de fora da empresa, nos demos conta de que meu primo havia nos deixado lá, achando que poderíamos voltar sozinhas. A princípio, ficamos paralisadas, porque estávamos muito longe do nosso ponto inicial e porque não havíamos imaginado que não haveria ninguém nos esperando. Como atravessaríamos aquela imensa cidade por nossa conta, decidimos fazer uma retrospectiva de como nos havíamos deslocado até lá. Conseguimos lembrar os números dos ônibus e o local onde os pegamos. Após o susto inicial, resolutas partimos de volta. Já era noite, quando chegamos, orgulhosas por termos conseguido chegar ao nosso destino sem problemas e felizes por termos estado tão perto de tantas celebridades.

Apesar de todo nosso entusiasmo, havia uma preocupação: será que a minha tia sabia que tínhamos sido deixadas naquele lugar completamente desconhecido para nós e segundo ela “no fim do mundo”? Soubemos a resposta na hora que dobramos a rua na qual ela morava. De longe já a vimos na calçada de casa, segundo meu tio “com a sobrancelha colada no topo da testa”, esperando por nós. Ela não sabia se ria ou se chorava. Estava emocionada de nos ver inteiras, ante a nossa aventura numa cidade com uma fama nada confortável, mesmo no final dos anos oitenta. Mas, ao mesmo tempo, se divertia com a nossa tranquilidade e alegria por aquele dia cheio de surpresas. Nos abraçamos para selar aquele momento de alívio, e entramos ansiosas para contar as façanhas daquela tarde, cuja lembrança ficou guardada no baú das nossas doces recordações.

04/02/2023