Qual o seu nome?


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Essa questão de registrar nome dá o que falar. É um assunto que me faz lembrar de casos curiosos. Não somente daqueles que consideramos excêntricos, mas também os nascidos da junção dos nomes dos pais. Porém, além desses, existem inusitadas cenas associadas a este simples, contudo importante ato para a vida de quem está vindo ao mundo. Algo que pode ser muito normal ou se transformar em um peso eterno, a depender daquele que vai ao cartório selar esta parte do destino.

Pensando nisso, lembrei do pai de uma amiga, o qual foi registrar a filha recém-nascida e pegou em seu bolso o papel onde a esposa havia escrito o nome completo da criança para que entregasse ao tabelião. Porém, ela não havia imaginado que o marido ao ler o nome ali colocado, o olharia várias vezes até concluir não ser a alcunha ideal para a filha, algo que só lhe soou mal quando estava na iminência de concretizar aquela ação definitiva. Como precisava rapidamente encontrar outro, foi assim que chegou em casa com a certidão, carregando o nome de uma personagem de um livro que havia lido. É claro que a esposa ficou chocada com a atitude do marido. No entanto, anos depois a filha agradeceu ao pai pelo nome escolhido.

Há poucos dias ouvi uma história quase igual. Lembrei da minha amiga e da escritora Zélia Gattai, a qual contou no livro Anarquistas Graças a Deus sobre os episódios em que o pai e o vizinho fizeram o mesmo. Em todas as ocorrências, a mãe escolhia o nome e o pai mudava. É o tipo de coisa que é mais comum acontecer do que imaginamos.

No meu caso, meu pai escolheu o nome. Então não houve polêmica, tendo saído para fazer o registro em acordo com a minha mãe. Nunca tive sentimento algum sobre essa escolha. Apenas achava curioso não encontrar uma xará, embora já tenha conhecido pessoas que me falaram ter sido apresentadas a alguém homônima a mim.

Apesar de não ser fruto de uma dessas situações, entretanto, existe um fato recorrente em relação ao meu nome: as pessoas costumam se confundir ao ler a sua grafia. Não que seja difícil ou estranho ao português, mas sempre tenho a impressão de que imaginam ser um outro nome, porém escrito erroneamente. O resultado disso é que terminam por pronunciar o que acham ser o correto, e sei que sou eu por causa do sobrenome. Isso costuma acontecer em consultórios médicos e laboratórios, quando é a minha vez de ser chamada.

E sempre foi assim até que um dia ocorreu algo diferente ao me dirigir a uma agência bancária, a fim de resolver um problema com a minha conta. Fui encaminhada a uma atendente à qual entreguei a minha documentação. Assim que ela leu os meus dados pessoais, passou a repetir o meu primeiro nome insistentemente para que eu confirmasse se era aquilo mesmo. Ao confirmar, ouvi a sincera indagação sobre como um pai teria a coragem de colocar um nome daqueles em uma filha. Diante do inusitado, fiquei sem acão e saí de lá perplexa com a franqueza e o inconformismo da funcionária do caixa, praticamente uma indelicadeza.

Outro dia, lembrando desse fato, meu marido me contou ter ido a um órgão de educação para buscar um documento da sua mãe. No entanto, após informar o nome dela, para que a funcionária localizasse a documentação solicitada, de forma semelhante ao ocorrido comigo, ouviu o nome da sua mãe ser repetido juntamente com a opinião sincera de que era um nome muito feio. Na ocasião, ele estava no início de uma fila de pessoas que aguardavam atendimento, então sem se fazer de rogado, perguntou em alto e bom som o nome dela, e quando ouviu a resposta, devolveu no mesmo tom que era um nome horroroso. Segundo ele, todos na fila começaram a rir e ela, com expressão de contrariedade e rispidez entregou o documento.

Ao chegar em casa e contar à mãe o ocorrido, esta sentindo-se defendida, se divertiu com a história. Quanto ao meu caso, não posso dizer que achei graça ou tive raiva. Pareceu tão despropositada a atitude da bancária em relação ao meu nome, que afinal, foi uma homenagem a uma famosa jornalista e não foi trocado no cartório, que não me abalei com o ocorrido. No fim é uma questão de gosto. Não constrangendo o dono, não importa quem ou como foi escolhido.

06/04/2024