Interessante como a gente costuma
pensar que as pessoas que falam sós, têm algum problema mental. Existem de
fato, muitas pessoas que têm problemas e falam sozinhas, de vez em quando a
gente até vê pelas ruas algumas almas acometidas por distúrbios psicológicos
que as levam a esse comportamento, porém como nem tudo que parece é, por um
outro lado, nem sempre isso é um sintoma de alguma patologia, pode ser
simplesmente um hábito, que exatamente pela conotação que possui, evitamos
realizar em público. Até neste momento, só porque estou falando isso é possível
que algum leitor pense ou venha a pensar que a minha sanidade é meio duvidosa,
apesar de todos saberem que de médico e louco todos nós temos um pouco.
Um dia fui assistir a uma
palestra de um médico que cuida da saúde no trabalho e ele falou sobre esse
assunto, fiquei impressionada ao escutar dele a afirmação de que falar só ou
cantar nos corredores é algo absolutamente normal e saudável e, mais do que
isso, ajuda a aliviar as tensões da vida propiciando um bem estar aos artistas
de corredor e de chuveiro. Ao contrário do que pensamos, isto não torna ninguém
louco. Confesso que senti até um certo alívio porque conheço gente que só sabe
fazer as coisas falando, precisa estar sempre dizendo para si mesma o que vai
fazer, não necessariamente em silêncio. Já vi no meu trabalho gente cantando
nos corredores e não posso deixar de dizer que fiquei de orelha em pé. Ainda
bem que agora posso ver meus colegas em pleno relaxamento mental sem pensar
alguma bobagem e, além disso, não tomar nenhum tipo de susto quando me pegar
falando sozinha.
Nós humanos às vezes criamos
barreiras que atrapalham a nossa própria existência. Até um comportamento que é
inerente a nossa espécie e não representa nenhum perigo, rotulamos como
inadequado. Fico pensando por exemplo, nas pessoas que vivem sozinhas se elas,
em não conversando consigo mesmas, como costumamos dizer: “com seus próprios
botões”, correm o risco de perder um pouco do seu equilíbrio emocional. Não é à
toa que crianças têm amigos imaginários e também não foi à toa que no filme “O
Náufrago”, o personagem principal deu vida a uma bola e ela passou a
representar um companheiro que ele conversava em seus momentos de angústia. Se
isso acontece é porque, de alguma forma, precisamos ter sempre algo ou alguém a
quem possamos recorrer nos momentos em
que não há ninguém.
Portanto, acho que é tempo de
compreendermos melhor, não só os que cantam nos corredores ou enquanto fazem
suas tarefas, mas também aqueles que falam enquanto pensam, o que afinal, é
muito mais salutar do que falar sem pensar.
16/02/2020