Vida de fã

Outro dia, estava assistindo a um programa, e lá pelas tantas o apresentador perguntou a uma atriz que era uma convidada sua, quem era a sua paixão impossível nos tempos de adolescente, e ela sem pestanejar respondeu: Robert Redford. Um ator de Holywood que hoje é uma lenda, e que foi o Brad Pitt das décadas de 70 e 80. Naquele instante dei uma bela risada e me transportei imediatamente para meus anos de adolescência, onde eu também era completamente apaixonada por esse ator.

Naquela época, era muito difícil obter material sobre os nossos “crushes” famosos, tínhamos que ficar olhando nas bancas caso alguma revista fizesse ou uma matéria, ou uma referência qualquer, ou publicasse alguma foto deles. Eu e minhas amigas, éramos todas colecionadoras de tudo que fosse publicado sobre eles. Cada uma tinha o seu e se uma visse algo sobre o favorito da outra, já pegava para “trocar figurinhas”.

Mas, com o passar do tempo, começamos a sentir uma necessidade de chegar mais perto daqueles que eram mais palpáveis, como os cantores e grupos musicais brasileiros. E saímos do plano das fotos e revistas para camarins e autógrafos. E a coisa foi ficando tão normal, que a cada show era certo aguardar na fila do camarim para conseguir um olá, um autógrafo, um abraço, qualquer coisa que nos proporcionasse um momento único com nossos ídolos.

Daqueles anos até hoje guardo fragmentos de lembranças e fotos de revista. Máquina fotográfica era coisa de difícil acesso para adolescentes e, por esse motivo, raramente registrávamos nossos “grandes momentos” em fotografias, mas apenas na memória. Não havia celular e tão pouco redes sociais, o que nos levava a dar valor a coisas que hoje são consideradas banais, facilidades que, por um outro lado, provocam comportamentos desmedidos de fãs que os levam a postar em redes sociais fotos tiradas a qualquer custo, em situações em que por vezes os artistas não se disponibilizaram. Naquela época, os respeitávamos muito, era quase uma honra falar com eles, e isso nos rendeu doces e raras lembranças, como o dia em que fiquei hipnotizada diante dos olhos do genial Chico Buarque; na ocasião em que fomos recebidos pelos simpáticos rapazes do conjunto 14 Bis e o dia em que encontramos com o mineiro Beto Guedes e ele autografou nossos álbuns. Além desses eventos, ainda tive encontros inesperados que ante a surpresa, fiquei paralisada como o dia em que olhava a vitrine de uma loja e ao virar para o lado, vi o cantor Alceu Valença, o qual sempre fui uma admiradora, e outra cena que vivi foi quando estava em uma loja de CDs e ao levantar a vista, vi em outra seção de discos Frejat, o líder da Banda Barão Vermelho, a qual ainda sou muito fã. É certo que não era mais uma adolescente, ainda assim fiquei sem ar e quase virei uma estátua de pedra.

Acredito que os aficionados das gerações recentes nem colecionem mais impressos relacionados aos seus ídolos, afinal a Internet permite o acesso fácil a tantas informações sobre esses, que já não há mais o encanto de garimpá-las e guardá-las como verdadeiras relíquias. Porém, há de se admitir que essa facilidade faz com que possamos obter notícias dos nossos velhos heróis, aqueles que outrora nos faziam suspirar, e se não fosse a rede mundial, não teríamos como saber o paradeiro de cada um e acompanhá-los até que a vida os perca de vista. Volta e meia me pego tietando na Internet, “caçando” menções àqueles que povoaram a minha juventude ou mesmo a infância e se tornaram inesquecíveis. Hoje cada um deles está ao alcance da mão e confesso que ainda me emociono quando assisto a um vídeo de um trabalho que fizeram naqueles velhos tempos e podemos reviver através do Youtube, o que vejo como algo positivo. Enfim, isso não tem preço. E posso até comemorar: viva a tecnologia a serviço dos fãs!

06/02/2022