Não inventa!

Baião sem invencionices
 

Cozinhar foi algo que aprendi cedo. Comecei com bolos, depois, sobremesas, até que cheguei nos pratos para almoço. Primeiro, coisas simples, evoluindo para as receitas especiais de final de semana, quando a família podia almoçar junta.

Foi assim até me casar e meu marido mostrar seus dotes culinários, além de agilidade na cozinha. Nesse caso, o deixei à vontade para exercer essa função, já que lhe dava prazer e seria algo de grande ajuda para a vida de uma esposa multitarefa.

Ele começou aos poucos e foi se aprimorando. Como um bom cearense, aprecia um baião de dois e apresentou à minha família e a mim esse prato prático e gostoso. Logo, todos corroboraram a preferência por essa receita e ela se tornou tradicional em nossa casa.

Embora o prato seja essencialmente preparado com feijão e arroz, o modo como essa junção é realizada e de acordo com a escolha dos aditivos para dar sabor, o resultado pode variar bastante. Após anos, compondo essa receita e pesquisando os vários métodos de seu preparo, ele finalmente chegou a um sabor, o qual elegemos como sendo o ideal. Como ele é o tipo do cozinheiro que gosta de experimentar variações, volta e meia testava algo diferente, mesmo tendo encontrado o sabor que passou a ser o nosso favorito.

Confesso que, quando ele fazia esses testes, eu ficava brava e o questionava a respeito. Até que um dia decidi resolver a questão e aí, quando pedia para que fizesse o baião, já ia logo botando ordem na casa: "Não inventa! Nada de fazer experimentos!". Essa foi a forma de garantir que nossos almoços tivessem o sabor esperado e sem surpresas.

Depois que adotei esta prática, percebi que ela também poderia ser aplicada para outras comidas. E assim foi para o arroz carreteiro e o pudim de leite, outras vítimas dos experimentos. Só lamento não ter conseguido salvar um delicioso bolo de banana, que ele começou a fazer e sempre dava certo. Essa, depois de tanto inventar, perdeu a receita original. As novas, que conseguiu na Internet tiveram resultados ruins. Não foram aprovadas para serem promovidas ao caderno onde ficam as que costumamos fazer. Uma lição para o meu chef caseiro, o qual se tornou um cozinheiro mais cuidadoso e um cientista menos impulsivo na cozinha.


08/12/2023