Ao meu cronista favorito

E porque é 12 de Outubro, deixo aqui a minha homenagem ao grande escritor Fernando Sabino, que completaria nesta data 96 anos, e foi e sempre será uma inspiração para mim. 


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 Desde a adolescência gosto de ler crônicas, acredito que adquiri esta preferência graças ao interesse da minha mãe pela leitura. Lembro de sempre vê-la lendo algum livro, esta é uma das imagens mais fortes que tenho dela. Se não desse para comprar, pois na época era caro manter o hábito de adquirir livros, ela conseguia emprestado. Recordo também que ela adorava a sessão do jornal Diário de Pernambuco intitulada “Dito e Feito”, que era a coluna escrita por Fernando Sabino. De tanto que comentava sobre as histórias dessa coluna, de vez em quando eu lia e me deleitava com a forma do autor transformar fatos simples em temas interessantes, começando assim meus primeiros flertes com os seus escritos.

Então, um dia ela comprou uma pequena coleção de livros de crônicas intitulada “Para gostar de ler”, com os principais escritores do gênero, incluindo Fernando Sabino. Creio que a leitura dos exemplares dessa coleção foi o que despertou meu gosto por esse estilo de texto, cheguei a ler repetidas vezes algumas histórias. Mas, como o destino tem caminhos próprios, de alguma maneira acho que estava predestinada a ser fã desse talentoso cronista. Então na época da escola tive contato com algumas de suas crônicas, através dos livros de Português. No 7o. ano, pela primeira vez li uma obra sua, como um dos livros escolhidos pela professora, para os trabalhos de interpretação de texto naquele ano, cujo título foi “O menino no espelho”. Me diverti muito com ele e li tantas vezes que passou a ser a minha fonte de distração antes de dormir, a sua leveza me deixava alegre e relaxada e já sabia de cor quase todas as histórias. E como tinha que ser, alguns anos depois, tive uma amiga que possuía vários livros dele os quais não hesitou em emprestá-los a mim. Eu já havia lido “O grande mentecapto” quando o filme homônimo foi lançado. Nossa! Para mim que já estava completamente enamorada pelo estilo desse escritor, foi um prazer desfrutar do resultado desta obra pitoresca de ficção que encantou o público.

Mas se tive a oportunidade de desfrutar dos livros desse mestre, o que dizer então da possibilidade de vê-lo pessoalmente, após tantos anos absorvendo suas obras? E este dia quase aconteceu na extinta e histórica livraria Livro 7. Era uma das suas noites de autógrafo, por ocasião do lançamento de mais um livro de Fernando Sabino, e eu estava lá. Cheguei a entrar na fila de autógrafos com meu velho e já tão manuseado “O menino no espelho”, coisas de estudante que ainda não podia comprar um livro recém-lançado, porém quando estava perto de chegar a minha vez, fiquei imaginando como ele reagiria ao ver aquele velho livro diante dos seus olhos, ao invés do seu lançamento novinho em folha. Diante da pressão de estar tão próxima do meu autor favorito com um livro que, naquele momento, ao meu ver não fazia jus ao grande escritor que estaria diante de mim, não pude continuar ali, saí da fila e logo depois fui embora. É claro que lamentei bastante, não sabia o que era pior, a sensação de não ter falado com ele estando tão perto, ou imaginar o que ele diria se me visse com aquele velho livro. Hoje, diante de tudo que sei sobre ele só consigo imaginar que, com certeza, teria sido gentil comigo, pois sempre conversou com estudantes e procurou de formas diversas estar próximo de seu público, fosse através do contato direto, ou através da sua escrita acessível a todo tipo de leitor, pois esse era seu modo de ser e de escrever.

Mas, tudo isso foi só para explicar de onde vem minha inspiração para a crônica. Se existe um escritor que me influenciou e me influencia até hoje, o nome dele é Fernando Sabino e tenho certeza de que devo a ele toda a minha paixão por esse tipo de literatura e a minha mãe que me apresentou, nos meus primeiros anos de leitura este mineiro, amigo de outros três conterrâneos, que juntos formavam “Os quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse”, desta forma autodenominados. Onde quer que ele esteja, mesmo sem saber, estará sempre me guiando através de seu estilo e de seus pensamentos eternizados em suas obras e nos arquivos que preservam a sua memória. Em meus guardados ainda mantenho algumas de suas crônicas escritas para a coluna Dito e Feito, outrora cuidadosamente conservadas pela minha mãe. E se vale contar as coincidências, para minha alegria meu filho nasceu no dia do aniversário de 75 anos deste grande escritor, e assim todos os anos nesta data celebro o nascimento daquele que fez surgir em mim a cronista e daquele que nasceu desta aprendiz de cronista.

E para não perder a oportunidade e concluir esta pequena homenagem, deixo aqui uma das célebres e inspiradoras frases desse escritor que é uma das minhas favoritas: “No fim tudo dá certo! se ainda não deu certo, é porque não chegou o fim”.


12/10/2019