Pintura: Zé Som |
É comum
ver pessoas cantando a saudade de sua terra quando está longe. Vi isso
surgindo muitas vezes dos que se foram cedo de uma terra que um dia
conheci. Depois disso, entendi o porquê de quem se vai dizer que ela é
de açúcar, uma doçura que só a falta aflora o paladar. Um sabor que só
pode ser sentido por quem não a pode ter ao alcance das mãos.
Por
um estranho fenômeno no qual a explicação pode estar em uma outra
encarnação, nunca consegui me sentir pertencente ao lugar que nasci e
vivo e, portanto, não experimentei o doce da ausência. Admiro quem ama
suas raízes e faz dela seu pilar, seu lugar. Depois de muito andar por
aí, passei a desconfiar onde gostaria de estar e tenho a esperança de um
dia aportar por lá. Quem sabe consigo encontrar a sensação de
pertencimento que todos precisamos ter.
Mas
como a vida dá muitas voltas, a recente discriminação contra as pessoas
da região onde nasci, me fez vivenciar e perceber a beleza de estar
onde estou e me orgulhar. É nessas horas que nos unimos e nos tornamos
mais fortes. E os que pensam que irão nos destruir pelo preconceito
ou por uma suposta diminuição do que somos, nos faz maiores, verdadeiros
gigantes. Hoje ainda mais determinados em nossos propósitos e
preparados para resistir, estamos tendo a oportunidade de mostrar o que
temos de melhor e, por outro lado, expor a fraqueza dos que tentam nos
encolher.
E foi por isso
que não precisei estar longe para vislumbrar o lado açucarado da minha terra.
Já que o inesperado traz consigo o não calculado, de forma inusitada
fui assolada por um sentimento de estar ligada ao chão onde nasci, do
valor dos que habitam esse solo, do que podemos ser e fazer. Só sinto as
pessoas não se aperceberem de que se nos uníssemos e fôssemos mais
independentes, poderíamos crescer e chegar até onde nossos pés pudessem
nos levar.
Pensando bem, é
possível que o problema da minha sensação de não ser do meu lugar é
porque gostaria de vê-lo ser muito mais do que é e isso não acontece.
Talvez o sonho que não se realiza de uma prosperidade travada pelos que
nos subjugam seja a pedra no caminho, o que não me traz a
plenitude de ser de onde sou. Quero crer que um dia enfim, as pedras
serão varridas; que a nossa grandeza tomará o seu lugar e que eu
possa sentir dentro de mim o pulsar das minhas origens, o reencontro
definitivo com minhas raízes.