O novo mundo das Lives

A nova realidade criada pela pandemia tem provocado muitas mudanças, tanto individuais como coletivas, tenho visto muitas pessoas repensarem e refletirem sobre suas prioridades e modos de vida e, diante da escassez de trabalho resultante das limitações do confinamento, era de se esperar que o mundo virtual fosse a maior porta de entrada para a solução da maioria dos problemas. E nesse contexto cada classe precisava se reinventar ou buscar novos meios para existir e, a classe artística foi uma delas, especificamente aqueles músicos que viviam de shows e foram privados do seu principal meio de vida. Dizem que a dor ensina a gemer, acredito que essa dor que muitos estão vivendo, ensinou as pessoas a agirem dando asas à imaginação e a criatividade, as lives foram uma demonstração dessa atitude, que gerou diversão para muitos e renda para este segmento que estava sem conseguir enxergar uma luz no fim do túnel. É claro que isso não resolveu o problema de todos desse universo artístico, mas foi um belo e significativo início.

Quando as primeiras lives começaram não acreditei que seria algo que caísse no agrado das pessoas, porém quando eu mesma comecei a assistir algumas me surpreendi e percebi que cativa e, mesmo não tendo o impacto que um espetáculo presencial nos causa, cada um assiste o que gosta e dá a conotação que quer, tanto pode ser uma festa, como um momento de relaxamento ou distração. Quem por exemplo mora no Nordeste e gosta dos shows juninos, foi agraciado com muitas lives que permitiram a cada família fazer sua festa dentro do seu espaço.

A partir da minha experiência vi que foi bom para todos, porque os artistas puderam aproveitar a oportunidade para receber pelo seu trabalho e nós pudemos contribuir para ajudar outras pessoas da classe artística e outras vítimas da pandemia, com as campanhas que foram disponibilizadas. Os expectadores foram presenteados com excelentes apresentações onde percebia-se que, dentro das limitações do mundo virtual, os artistas estavam tentando dar o melhor de si para superar a restrição imposta pela distância e pelo espaço de um monitor. Tudo isso humanizou uma saída tecnológica para um problema que afetou profundamente a vida de tantas pessoas e, de certa forma, senti orgulho dos que se esforçaram para fazer o seu melhor num momento tão adverso.

Mas como live é algo que pode beneficiar praticamente todas as áreas, é claro que todos pegaram carona nessa ideia, e no bom sentido “choveu” lives sobre todos os assuntos possíveis e imagináveis para todos os gostos e necessidades, e hoje quem não tem uma live para assistir “que atire a primeira pedra”. Praticamente todos os dias, recebo algum convite para assistir uma nova apresentação e fico até confusa, ou não tenho tempo para corresponder a uma demanda que, se por um lado é extremamente enriquecedora para o nosso conhecimento, por outro lado nos pressiona com tantas possibilidades. Cabe a nós termos discernimento para fazer as melhores escolhas daquilo que é relevante para as nossas vidas, visto que não devemos gastar um tempo, que muitas vezes não temos, para assistir a algo que nada vai nos acrescentar e se estamos em nossos lares para nos proteger, não é por essa porta que deixaremos entrar o que não nos pertence.

08/08/2020