Tem, mas tá faltando


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Já andei por diversos lugares país afora, e gosto muito de observar o tratamento oferecido nas diferentes regiões desta nação de costumes tão variados. E o que a gente mais espera quando chega em cada lugar é ser bem recebido, e para o nosso alívio, não faltam aqueles que são bons anfitriões e transmitem simpatia e receptividade, e nos fazem sentir orgulhosos, mesmo não sendo da terrinha.

Contudo, há sempre aqueles que não conseguem ou não sabem ser bons amigos. Estes nos dão vontade de correr léguas. Às vezes, ficamos tão bravos com essas criaturas pouco amáveis, que até nos esquecemos dos que foram gentis, tamanha é a desagradável marca deixada por essas almas cabulosas. Nessas horas, o melhor é tentar não se deixar contaminar pelos maus-tratos que aqui e ali, surpreendentemente, surgem daqueles que precisam nos agradar para obter lucros. É fato que existem figuras que são tão grosseiras, que chegam a ser grotescas, com um mau humor tão despropositado e fora de contexto, que praticamente se transformam em figuras folclóricas. Conheço alguns casos de garçons que eram tão abusados que viraram até alvo de provocações de clientes, que faziam isso só para se divertirem com o descabimento das respostas desaforadas de forma gratuita.

Mas, embora já tenha visto tantos comportamentos inusitados, não consigo deixar de me espantar com alguns costumes dos meus próprios conterrâneos, que têm uma estranha mania de não se abastecer de produtos que são de suma importância para o seu comércio. E como se fosse pouco, ainda se sentem incomodados com a justa reclamação do cliente, que custa a crer nessa insuficiência de mercadoria essencial, tais como faltar pão ou hambúrguer em loja de sanduíche, faltar ovo em lugares que servem café da manhã; acabar rapidamente a cerveja gelada em bares; faltar massa na pastelaria, além de outras situações inacreditáveis, considerando o contexto.

Apesar disso tudo, acredito que o pior desse tratamento “cinco estrelas”, que extrapola a minha compreensão, é a explicação da situação, quando se utilizam da inusitada frase: “Tem, mas tá faltando”. Antes eu ficava indignada, achando a coisa um tanto estapafúrdia. Hoje, simplesmente não consigo conter um risinho amarelo que sempre me escapa, seguido do pensamento maligno de que “é o velho estilo comercial, típico dos meus estranhos conterrâneos, povo sem jeito e sem lógica!”. Não fosse a pitada de comédia advinda dessa falta de coerência, desse povo que suicida os próprios negócios, com esse jeito pouco atrativo de servir os clientes, talvez tivesse o ímpeto de responder-lhes, chamando-lhes à razão. Porém, assim como bem a nossa cultura lhes ensina: “Errados são os que reclamam, esses, sim, são os verdadeiros chatos e sem razão!”.


16/11/2018