O outro


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Não sei se foi coincidência, mas num pequeno intervalo de tempo recebi várias mensagens sobre a necessidade de ajudarmos o outro, da felicidade que se sente quando se faz algo por quem precisa. Isso é o que uma amiga minha chama de “corrente do bem”. Várias pessoas país afora procuram de alguma forma fazer a diferença, ajudando os menos favorecidos, ou mesmo qualquer um que precise de auxílio, como falou uma senhora em um vídeo que recebi: “Todo dia fazer um bem para alguém”.

O interessante nisso tudo é que a maioria de nós sabe disso, mas, mesmo assim, ainda falta muito para atingir aqueles que têm o maior poder de realizar as mudanças mais profundas que ajudariam não pequenos grupos, mas boa parcela de uma população sofrida com a falta de consciência. E quando falo falta de consciência, quero dizer a ausência do sentimento que faz as pessoas se sentirem mal quando não cumprem o seu dever. Isso não está ligado ao conhecimento; uma coisa é saber que está fazendo a coisa errada, outra coisa é sentir o peso do erro. Hoje o que se vê em nosso país são pessoas fazendo o mal e defendendo isso como se fosse o correto, uma inversão assustadora de valores. É quando a figura do outro deixa de existir, e só existe o eu. Nesse caso, essas pessoas só enxergam a si mesmas, e têm todas as justificativas do mundo para as suas atitudes quando são descobertas. Afinal, normalmente uma das maiores armas delas é atacar aqueles que as combatem, procurando falhas no acusador para desmoralizar ou neutralizar as acusações, não através da razão, mas de fato utilizando impensáveis inversões e distorções da realidade. 

Em nosso país, existem alguns vícios de pensamento e comportamento que generalizam e espalham o nosso atraso; coisas como “sempre levar vantagem”, “o mundo é dos espertos”, e um dos mais comuns, que é: “todo mundo faz”. Essa é a pérola dos que adoram justificar pequenos e grandes erros que subtraem do país a ética e a dignidade no dia a dia. Por exemplo, andar em um ônibus sem pagar, estacionar na vaga de deficiente sem ser, ultrapassar pelo acostamento ou pela contramão para passar na frente dos outros, subornar um guarda de trânsito ou policial, corromper fiscais de obras, vigilantes sanitários etc., etc. Aqueles pequenos males que no final todos pagam, muitas vezes com a própria vida, ao morrerem nas estradas, ao comerem comidas contaminadas, com o desabamento de prédios e outras tragédias mais. Por trás de tudo isso, sempre tem alguém ou algumas pessoas que se venderam para beneficiar pequenos grupos, comprometendo a vida de outros, que nesses momentos inexiste. Ao se venderem, nunca pensam nas centenas de pessoas que podem ficar presas dentro de um estabelecimento em chamas, nem naqueles que vão perecer por tomar medicamentos placebos. Nessas horas, o outro pode ser qualquer um, menos ele mesmo. 

Às vezes, o que me consola é lembrar o que um colega sempre dizia sobre uma tal lei do retorno, na qual o mal sempre volta para quem o praticou. Ele afirmava que um dia, de alguma forma, a pessoa iria pagar pelo mal feito, e assim espero, porque se depender da Justiça injusta dos homens, pouco veremos. E é por isso que também tenho ouvido nos últimos dias uma frase simples, mas muito significativa, que diz: “Se queremos mudar o nosso país, temos que começar por nós”. É isso! Atitude é tudo, e mudança de atitude é mais. Dessa forma, como diz também uma amiga, “a corrente do bem será maior que a do mal”, e quem sabe, unindo nossas forças de paz, tenhamos uma chance de vencer este velho e invisível cabo de guerra, que neste momento, de uma maneira surreal, foi puxado, levando muitos de nós a pender sobre um precipício.


16/11/2018