Irmãos celulares


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Há um tempo, li um livro de um cientista americano, especialista no estudo das células, sobre uma teoria muito interessante a respeito da nossa identidade celular, na qual indica que nossas células são dotadas de características únicas, mas que em algum momento podem voltar a existir em uma outra pessoa, mais ou menos como uma reencarnação. Seria nós mesmos mais uma vez, já que a mesma identidade celular estaria reproduzida num segundo momento.

Fiquei pensando se as pessoas conseguem imaginar a existência de outro ser igual a elas. Pessoalmente, acredito que pode existir um clone nosso andando por aí. Infelizmente não posso dizer que gostaria que existisse um terceiro ou quarto exemplar de determinadas criaturas humanas, no entanto, seria fantástico se pessoas boas tivessem cópias suas espalhadas pelo mundo. Vai ver que elas, de vez em quando, se cruzam sem perceber. Imagino o quanto seria incrível caso se encontrassem e se reconhecessem. Acho que foi baseado nessa crença que recentemente foi produzido um filme no qual a personagem principal se encontra com a sua versão mais jovem. Ficção? Talvez não.

Conheço duas pessoas que me fazem desconfiar de que essa teoria pode ter fundamento. Comecei a perceber tantas semelhanças entre elas, que já não sei se é um acaso, ou se é um caso que corrobora a teoria descrita pelo cientista Bruce Lipton. E na tentativa de visualizar essas semelhanças, resolvi enumerá-las: hora de dormir, sensibilidade à bebida, mesma relação peculiar com o dinheiro e com mulheres, personalidade, humor (mesmo trato com as pessoas), e alguns defeitos e atitudes também bastante próprios. Acredito que isso tudo já engloba quase todas as características de uma criatura humana. É claro que o meio onde vivem influencia na questão, fazendo a diferença, além da aparência física, caso contrário, seriam gêmeos. Porém, quando penso na quantidade de coincidências, não consigo evitar a ideia de que, se existe uma explicação científica, é nela que me apego para entender a origem desses espécimes.

E creio que tudo isso pode ser real e não apenas fruto da minha imaginação, baseada em suposições científicas, pois, até que me provem o contrário, o que vi até o momento já me deixa, pelo menos, com certa impressão de que, mais perto do que imaginamos, podemos ter alguém, senão igual, muito semelhante a nós em algum lugar deste vasto mundo. Hoje, com os sites de relacionamento, por exemplo, poderíamos imaginar que, de repente, uma dessas duplas poderia se encontrar, supondo que os softwares buscam pessoas com características semelhantes para uni-las. Considerando que esses programas estão ficando cada vez mais sofisticados e com um alcance cada vez maior, não me surpreenderia se um dia esses irmãos celulares pudessem se conhecer e se reconhecer.

Não sei se há algum perigo nisso, mas imagino que essa possibilidade é no mínimo surpreendente, visto que mexe com o nosso imaginário e com nossas crenças, normalmente bastante enraizadas em conceitos que muitos não querem ou não aceitam mudar. Embora a mente humana seja capaz de gerir uma tecnologia que evolui a passos largos, a visão do ser humano acerca de sua existência ainda possui enormes limitações, que aprisionam suas mentes e, portanto, suas vidas.                                     


22/04/2019

Discordar sim, brigar não


Outro dia, ouvi uma mensagem que falava sobre a importância de discutirmos política, mas sem brigas. Avaliei o quanto foi perfeita a colocação do autor, posto que ele deixou claro o quão fundamental é a nossa participação nesse assunto, e até mesmo uma obrigação, a partir do momento em que o ser humano é um ser político e sofre diretamente as consequências das decisões que aqueles que se apossam do poder tomam por nós.

Nada como ficar “deitado em berço esplêndido”, apenas apreciando a decisão dos outros sobre o nosso presente e futuro, esperando que tudo fique como desejamos, e acreditando que jamais aqueles que elegemos tramarão contra nós. Seria perfeito. Porém, considerando a cruel realidade do país onde vivemos, essa letargia não combina com o disparate do comportamento de nossos políticos, que se alternam no poder vendendo ilusões. E o mais surpreendente disso é que as pessoas hoje estão quase se matando para terem o direito de se agarrar a esses embustes, e ai de quem tentar demovê-las de suas crenças políticas. É mais ou menos como tentar fazê-las mudar de time ou de religião. Cheguei a ouvir explicitamente de um colega: “Política é como futebol e religião, não se discute”. Confesso que na hora não resisti ao pensamento de que as minhas impressões acerca de que as pessoas lidavam com suas crenças políticas como uma verdadeira religião estavam se confirmando naquela frase, que considerei a princípio uma confissão.

Aí volto para a mensagem de que precisamos, sim, discutir, mas sem brigar. Mas como discutir com quem, apesar de todos os males feitos e do nosso atribulado passado, ainda não aprendeu com a história e se agarra a ilusões de direita ou de esquerda, sem avaliar o que é realmente justo e correto? Então é por isso que precisamos discutir, porque ainda não aprendemos o que é ser justo, o que é pensar no outro, o que é fazer política e não politicagem, outro ponto abordado na mensagem. Estamos vivendo uma imaturidade no campo da ideologia, no qual nem sequer podemos discutir, já que ou brigamos ou nos calamos, pois não sabemos mais lidar com isso; temos que ter razão sempre. Nesse caso, há o risco de estarmos errados, então preferimos calar ou partir para a força bruta.

Nesse contexto, eu mesma fui calada em todos os grupos nos quais ousei falar de política, ao ponto de pessoas expressarem que eu deveria ir para um grupo onde se discutisse esse tema, ao que retruquei que o assunto estava proibido em todos os grupos. E a coisa ficou tão escabrosa que as tais convicções políticas transformaram muitas relações familiares e amizades, que se fragilizaram em meio a esta necessidade pessoal desesperada de se agarrar a uma crença a todo custo. Ouvi vários casos, além dos próprios que vivi. Mas até mesmo as religiões e os times de futebol decepcionam seus seguidores, e há de se convir que fé só resiste quando é grande e há algo de sagrado por trás, o que verdadeiramente não ocorre nesse caso.

O consolo é que sempre existe a esperança de que algo mude, de que a voz daqueles que estão fazendo um trabalho de formiguinha, tentando botar um pouco de luz neste momento de “apagão”, surta efeito e, mais adiante, de alguma forma, aprendamos a exercer a nossa cidadania plenamente, ao entendermos que somos seres políticos, e como tal devemos ser ouvidos e respeitados por quem está dentro e fora do poder. Quem sabe num próximo momento de decisão, eu possa discutir não sobre se posso falar ou não, mas sim sobre o que podemos fazer para efetuar boas escolhas, unidos por um só propósito.


20/04/2019