Monossilábicos


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Por uma contradição da natureza, a depender do contexto, posso ser  uma pessoa muito calada e tímida em algumas ocasiões, já em outras, bastante faladeira. Se não conheço o ambiente ou não tenho aproximação com as pessoas, costumo ficar bem quietinha ou até muda. Lembro porém, que na minha infância o normal era realmente não falar, a minha timidez costumava me promover a “bicho do mato”, como costumava dizer a minha avó. De vez em quando até levava bronca da minha mãe por isso, que já classificava o problema como falta de educação. Mas se tinha uma coisa que a deixava irritada mesmo, era o monossilábico. Então se eu era calada fora de casa, dava até para ela engolir, mas quando eu começava a responder com apenas “sim” e “não” a coisa pegava, porque geralmente isso acontecia quando estava brava e aí vinha a reclamação: Por que essas respostas monossilábicas? Fale direito! Responda! e ai de mim se não me corrigisse!

Hoje quando penso em monossilábicos me vem à mente aquelas respostas que a gente recebe no aplicativo de conversa, no qual após você fazer uma série de perguntas ou afirmações, do outro lado alguém responde com uma carinha ou com um gesto de uma mãozinha, deixando a imaginação como a dona da resposta. É claro que nem só de “emotions” vivem essas respostas solitárias, de vez em quando também recebemos um sim, não, talvez, mais ou menos e por aí vai, mas o fato é que hoje a frustração relacionada ao diálogo que não fluiu está estampada em nossas conversas instantâneas. Tudo bem que essas conversas precisam ser curtas, mas nem tanto! Às vezes quando falamos esperamos uma resposta de verdade.

E se eu me admiro com esse tipo de atitude, imagine as pessoas mais antigas que normalmente criam uma expectativa enorme diante de uma mensagem enviada. Tenho visto essas pessoas esboçarem decepção diante desse comportamento, e tenho ouvido aquela velha expressão: “só isso!” quando um “emotion” é a resposta. Na verdade creio que, apesar de hoje tudo estar num outro patamar diante da evolução tecnológica, as pessoas basicamente cultivam as mesmas expectativas, hoje ou amanhã. Não importa o sexo ou a idade, existe sempre aquele momento em que mesmo num simples diálogo em um aplicativo de mensagens, esperamos mais do que uma ou duas palavras e mais que uma imagem simbólica. É claro que é possível que uma imagem fale mais que mil palavras, porém por outro lado, podem também dizer muito menos do que se espera e até mesmo se transformar em um frustrante monossílabo.


01/06/2018

Palavra de Honra


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 Quando eu era criança, vez ou outra ouvia os adultos falarem uma frase que era comum na época e que representava um grande valor ético e moral, que era mais ou menos assim: “fulano” empenhou sua palavra. Essa frase tinha muito significado, pois uma vez que um indivíduo se comprometesse em nome da rua honra, o acordo estava selado. Isto era tão forte, que quando ocorria uma suspeita sobre essa espécie de promessa, sempre havia aqueles que corriam em defesa, utilizando exatamente o argumento de que o envolvido tinha feito esse empenho, nada mais forte e valoroso.


Hoje no nosso país, lamentavelmente, essa é uma qualidade que perdeu-se no tempo e tornou-se sem sentido numa sociedade eticamente precária, enfraquecida por falta de valores em muitas instâncias. Uma população sucumbida em seus próprios erros evolucionários. Digo isso porque quando avançamos no tempo, conquistando liberdades antes inexistentes, não soubemos dosar o tanto que precisávamos para termos uma sociedade justa. A partir daí caímos no exagero confundindo liberdade com ausência de limites comportamentais, extrapolando nossos espaços e invadindo os alheios, com a consequente perda do respeito ao próximo. Nisso tudo onde poderia existir espaço para a velha palavra de honra? Simplesmente não há lugar dentro de um contexto dessa natureza. Hoje para a vergonha daqueles que ainda valorizam o compromisso pela fala, porque outrora assim aprenderam, o que impera é a mentira bem contada, tão bem nutrida que muitas pessoas parecem atores ambulantes. Mentir tornou-se tão natural que a nossa classe política não se pode dizer que está contaminada por esta doença, mas sim que é regida por ela e só os mais inocentes é que ainda acreditam nesses “atores” profissionais, orientados por marqueteiros escolados no assunto.

Diante de um cenário tão estapafúrdio que vivemos, e com um povo tão fraco quando se trata de veracidade do que é expressado como o nosso, é inacreditável que ainda exista uma sociedade como a sueca por exemplo, em que uma declaração verbal vale até judicialmente como prova. Se o cidadão faz um contrato baseado em um acordo entre as partes sem um documento por escrito, este tem validade porque lá a palavra tem força, tem fé. Que saudade do tempo em que quando queríamos provar para um coleguinha que estávamos falando a verdade, era só dar a nossa palavra de honra.

Não consigo me acostumar a ver pessoas que deveriam ter uma reputação ilibada, mentir diante de todos, e até da própria justiça ferindo juramentos, infringindo a lei, sem sentir nem um pouco de vergonha ou remorso. No entanto, acredito que a nossa sorte é que para o azar dessas pessoas o mundo gira, e nas voltas da vida eles ou elas terminam sendo pegos de alguma forma. Creio que embora pareça que nada acontece, tenho a certeza de que todos eles um dia ficarão diante de suas verdades. Para os que conseguirem se arrepender há sempre uma forma de seguir um novo caminho. Porém, para aqueles que acreditam nessa falsa vida de barganhas espiritualmente vazias, só restará apelar para a piedade divina, porque para estes dublês de cidadãos, creio que o acerto de contas será proporcional a cada mentira semeada, e haja mentira!


19/11/2017