A vida e a balança



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Às vezes penso no quanto nossa vida precisa estar a todo momento sendo pesada em algum tipo de balança, não falo da que mede a nossa massa corporal, mas sim daquela que pesa nossos atos. Mesmo aqueles que tentam se desvencilhar deste tipo de controle, não há como fugir dessa constante aferição, pois a cada lance da nossa existência onde paramos para pensar em fazer ou não algo, automaticamente já estamos avaliando o resultado de alguma atitude que tomaremos.

Passei um tempo pensando que ao longo da vida algumas coisas naturalmente vão perdendo peso. Imaginava que a capacidade adaptativa do ser humano levaria a uma sensação de mais leveza diante de situações repetitivas ou insolúveis. Seria mais ou menos um conformismo justificado no velho ditado que diz “o que não tem remédio, remediado está”. Porém, percebi que de alguma forma existem coisas que precisam ter a sua cura do contrário começam a fazer cada vez mais pressão dentro de nós. E, ou o remédio tem que ser usado para equilibrar este peso, ou não há como continuar a carregá-lo. É como suportar por exemplo problemas de convivência, alguns não têm como acostumar e se tornam cada vez mais pesados, o que leva as pessoas a desistirem deste tipo de tentativa de resistência, porque o acúmulo do fardo se torna insuportável. Aqueles que resolvem carrega-lo, por vezes terminam se deteriorando interiormente, cultivando uma espécie de sofrimento que se transforma em sua “cruz interior”.

É por situações como essas que penso em como é importante saber ser moderado quando decidimos o quanto podemos colocar em nossas costas, considerando que a carga pode se tornar mais difícil de levar. Algumas pessoas têm a capacidade de aprender com seus fardos e torná-los mais leves, e isso é um dom, uma espécie de sabedoria de vida, enquanto que outros insistem nos erros, piorando sua própria condição. Por um estranho motivo, que ainda não compreendo, algumas pessoas não aprendem com suas próprias falhas, findando por cultivar ou alimentar seus males. É como escolher guardar mágoas, tal qual um veneno que se bebe esperando que o outro morra. Este não é o caminho a se trilhar. Se não precisamos acumular tudo isso, nada melhor que nos desvencilhar desses sentimentos, vivendo bem com nós mesmos e com os que nos cercam.

Mas, apesar desta visão de que muitos não caminham na direção que os levaria a um maior equilíbrio diante das dificuldades que se interpõem em suas vidas, acredito que o destino normalmente costuma dar oportunidades. Entre um e outro problema surge sempre uma luz. Resta a cada um aproveitar ou não o que chamamos, às vezes de esperança, outras vezes de sorte ou até de milagre. O fato é que cada um tem a sua e deixá-la brilhar cabe fundamentalmente e primordialmente ao dono dessa energia, que irá decidir para que lado a balança da sua vida irá pender.


23/12/2018

Tem, mas tá faltando


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Já andei por diversos lugares país afora, e gosto muito de observar o tratamento oferecido nas diferentes regiões desta nação de costumes tão variados. E o que a gente mais espera quando chega em cada lugar é ser bem recebido, e para o nosso alívio, não faltam aqueles que são bons anfitriões e transmitem simpatia e receptividade, e nos fazem sentir orgulhosos, mesmo não sendo da terrinha.

Contudo, há sempre aqueles que não conseguem ou não sabem ser bons amigos. Estes nos dão vontade de correr léguas. Às vezes, ficamos tão bravos com essas criaturas pouco amáveis, que até nos esquecemos dos que foram gentis, tamanha é a desagradável marca deixada por essas almas cabulosas. Nessas horas, o melhor é tentar não se deixar contaminar pelos maus-tratos que aqui e ali, surpreendentemente, surgem daqueles que precisam nos agradar para obter lucros. É fato que existem figuras que são tão grosseiras, que chegam a ser grotescas, com um mau humor tão despropositado e fora de contexto, que praticamente se transformam em figuras folclóricas. Conheço alguns casos de garçons que eram tão abusados que viraram até alvo de provocações de clientes, que faziam isso só para se divertirem com o descabimento das respostas desaforadas de forma gratuita.

Mas, embora já tenha visto tantos comportamentos inusitados, não consigo deixar de me espantar com alguns costumes dos meus próprios conterrâneos, que têm uma estranha mania de não se abastecer de produtos que são de suma importância para o seu comércio. E como se fosse pouco, ainda se sentem incomodados com a justa reclamação do cliente, que custa a crer nessa insuficiência de mercadoria essencial, tais como faltar pão ou hambúrguer em loja de sanduíche, faltar ovo em lugares que servem café da manhã; acabar rapidamente a cerveja gelada em bares; faltar massa na pastelaria, além de outras situações inacreditáveis, considerando o contexto.

Apesar disso tudo, acredito que o pior desse tratamento “cinco estrelas”, que extrapola a minha compreensão, é a explicação da situação, quando se utilizam da inusitada frase: “Tem, mas tá faltando”. Antes eu ficava indignada, achando a coisa um tanto estapafúrdia. Hoje, simplesmente não consigo conter um risinho amarelo que sempre me escapa, seguido do pensamento maligno de que “é o velho estilo comercial, típico dos meus estranhos conterrâneos, povo sem jeito e sem lógica!”. Não fosse a pitada de comédia advinda dessa falta de coerência, desse povo que suicida os próprios negócios, com esse jeito pouco atrativo de servir os clientes, talvez tivesse o ímpeto de responder-lhes, chamando-lhes à razão. Porém, assim como bem a nossa cultura lhes ensina: “Errados são os que reclamam, esses, sim, são os verdadeiros chatos e sem razão!”.


16/11/2018

O outro


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Não sei se foi coincidência, mas num pequeno intervalo de tempo recebi várias mensagens sobre a necessidade de ajudarmos o outro, da felicidade que se sente quando se faz algo por quem precisa. Isso é o que uma amiga minha chama de “corrente do bem”. Várias pessoas país afora procuram de alguma forma fazer a diferença, ajudando os menos favorecidos, ou mesmo qualquer um que precise de auxílio, como falou uma senhora em um vídeo que recebi: “Todo dia fazer um bem para alguém”.

O interessante nisso tudo é que a maioria de nós sabe disso, mas, mesmo assim, ainda falta muito para atingir aqueles que têm o maior poder de realizar as mudanças mais profundas que ajudariam não pequenos grupos, mas boa parcela de uma população sofrida com a falta de consciência. E quando falo falta de consciência, quero dizer a ausência do sentimento que faz as pessoas se sentirem mal quando não cumprem o seu dever. Isso não está ligado ao conhecimento; uma coisa é saber que está fazendo a coisa errada, outra coisa é sentir o peso do erro. Hoje o que se vê em nosso país são pessoas fazendo o mal e defendendo isso como se fosse o correto, uma inversão assustadora de valores. É quando a figura do outro deixa de existir, e só existe o eu. Nesse caso, essas pessoas só enxergam a si mesmas, e têm todas as justificativas do mundo para as suas atitudes quando são descobertas. Afinal, normalmente uma das maiores armas delas é atacar aqueles que as combatem, procurando falhas no acusador para desmoralizar ou neutralizar as acusações, não através da razão, mas de fato utilizando impensáveis inversões e distorções da realidade. 

Em nosso país, existem alguns vícios de pensamento e comportamento que generalizam e espalham o nosso atraso; coisas como “sempre levar vantagem”, “o mundo é dos espertos”, e um dos mais comuns, que é: “todo mundo faz”. Essa é a pérola dos que adoram justificar pequenos e grandes erros que subtraem do país a ética e a dignidade no dia a dia. Por exemplo, andar em um ônibus sem pagar, estacionar na vaga de deficiente sem ser, ultrapassar pelo acostamento ou pela contramão para passar na frente dos outros, subornar um guarda de trânsito ou policial, corromper fiscais de obras, vigilantes sanitários etc., etc. Aqueles pequenos males que no final todos pagam, muitas vezes com a própria vida, ao morrerem nas estradas, ao comerem comidas contaminadas, com o desabamento de prédios e outras tragédias mais. Por trás de tudo isso, sempre tem alguém ou algumas pessoas que se venderam para beneficiar pequenos grupos, comprometendo a vida de outros, que nesses momentos inexiste. Ao se venderem, nunca pensam nas centenas de pessoas que podem ficar presas dentro de um estabelecimento em chamas, nem naqueles que vão perecer por tomar medicamentos placebos. Nessas horas, o outro pode ser qualquer um, menos ele mesmo. 

Às vezes, o que me consola é lembrar o que um colega sempre dizia sobre uma tal lei do retorno, na qual o mal sempre volta para quem o praticou. Ele afirmava que um dia, de alguma forma, a pessoa iria pagar pelo mal feito, e assim espero, porque se depender da Justiça injusta dos homens, pouco veremos. E é por isso que também tenho ouvido nos últimos dias uma frase simples, mas muito significativa, que diz: “Se queremos mudar o nosso país, temos que começar por nós”. É isso! Atitude é tudo, e mudança de atitude é mais. Dessa forma, como diz também uma amiga, “a corrente do bem será maior que a do mal”, e quem sabe, unindo nossas forças de paz, tenhamos uma chance de vencer este velho e invisível cabo de guerra, que neste momento, de uma maneira surreal, foi puxado, levando muitos de nós a pender sobre um precipício.


16/11/2018

Monossilábicos


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Por uma contradição da natureza, a depender do contexto, posso ser  uma pessoa muito calada e tímida em algumas ocasiões, já em outras, bastante faladeira. Se não conheço o ambiente ou não tenho aproximação com as pessoas, costumo ficar bem quietinha ou até muda. Lembro porém, que na minha infância o normal era realmente não falar, a minha timidez costumava me promover a “bicho do mato”, como costumava dizer a minha avó. De vez em quando até levava bronca da minha mãe por isso, que já classificava o problema como falta de educação. Mas se tinha uma coisa que a deixava irritada mesmo, era o monossilábico. Então se eu era calada fora de casa, dava até para ela engolir, mas quando eu começava a responder com apenas “sim” e “não” a coisa pegava, porque geralmente isso acontecia quando estava brava e aí vinha a reclamação: Por que essas respostas monossilábicas? Fale direito! Responda! e ai de mim se não me corrigisse!

Hoje quando penso em monossilábicos me vem à mente aquelas respostas que a gente recebe no aplicativo de conversa, no qual após você fazer uma série de perguntas ou afirmações, do outro lado alguém responde com uma carinha ou com um gesto de uma mãozinha, deixando a imaginação como a dona da resposta. É claro que nem só de “emotions” vivem essas respostas solitárias, de vez em quando também recebemos um sim, não, talvez, mais ou menos e por aí vai, mas o fato é que hoje a frustração relacionada ao diálogo que não fluiu está estampada em nossas conversas instantâneas. Tudo bem que essas conversas precisam ser curtas, mas nem tanto! Às vezes quando falamos esperamos uma resposta de verdade.

E se eu me admiro com esse tipo de atitude, imagine as pessoas mais antigas que normalmente criam uma expectativa enorme diante de uma mensagem enviada. Tenho visto essas pessoas esboçarem decepção diante desse comportamento, e tenho ouvido aquela velha expressão: “só isso!” quando um “emotion” é a resposta. Na verdade creio que, apesar de hoje tudo estar num outro patamar diante da evolução tecnológica, as pessoas basicamente cultivam as mesmas expectativas, hoje ou amanhã. Não importa o sexo ou a idade, existe sempre aquele momento em que mesmo num simples diálogo em um aplicativo de mensagens, esperamos mais do que uma ou duas palavras e mais que uma imagem simbólica. É claro que é possível que uma imagem fale mais que mil palavras, porém por outro lado, podem também dizer muito menos do que se espera e até mesmo se transformar em um frustrante monossílabo.


01/06/2018